terça-feira, 8 de maio de 2007

Tradições Wiccanas

Demorei um pouco para juntar e arrumar o material que a partir de hoje começarei a colocar aqui.
Uma amiga e irmã falou comigo que está gostando do jeito que estou falando sobre Wicca aqui neste blog. Fico muito agradecido querida, espero que continue acompanhando, mesmo que nossa querida Lorien ainda esteja sem tempo para nos agraciar com suas palavras.
Tentarei ser o mais claro possível ao falar sobre um assunto tão delicado como são as tradições wiccanas. Claro que não conseguiria falar sobre todas elas em apenas um post, então vou separar e colocar um post para cada uma das grandes tradições.
Vamos lá!


Tradição Gardneriana

Esta vertente da wicca foi assim chamada por ter sido baseada nas pesquisas e aprendizado feitos por Gerald Brosseau Gardner (1884-1964), Gardner foi um obstinado estudioso do ocultismo, sendo ainda doutor em filosofia e literatura.
Ficou conhecido como "Pai da Wicca", foi capaz de trazer novamente à tona uma religião matriarcal que ele chamou de Wica. A antiga religião há muito não era mais comentada por razões que conhecemos, preconceitos e temores, dentre outros.
A Tradição define a Wicca como um caminho iniciático e uma religião de mistérios que guia os seus iniciados a uma profunda comunhão com os poderes da Natureza e da psique humana, conduzindo a uma transformação espiritual do indivíduo. Uma reunificação com as forças vitais naturais, embora não seja somente isso. Se fosse apenas isso, seria apenas mais um caminho xamânico. A Wicca é muito mais do que apenas um caminho panteísta. Ela é uma religião completa em si mesma e que utiliza a magia, um conjunto de técnicas capazes de alinhá-la com as forças naturais e utilizá-las como instrumento de realização.
Gardner mesmo tendo sido severamente criticado pelo segmento conservador da Antiga Religião por ter quebrado o segredo mantido durante séculos, surgiu a partir dessa época um movimento que não parou de se expandir e de crescer até hoje. Na Lua Cheia e nos Sabás, os wiccanos se reunem em grupos de mulheres e homens nas clareiras dos bosques, nos quintais, nas praias e até mesmo em apartamentos para despertar as energias, equilibrar-se as forças da natureza e acima de tudo cultuar a Deusa. São reverenciados os antigos deuses e reverenciados acima de tudo a Deusa e seu consorte o Deus de Chifres. Os nomes dos deuses variam conforme a tradição: Aradia e Cerridwen são nomes mais comuns para a Deusa e o Deus Cornífero é chamado de Cernunnos ou Herne. Embora muitas pessoas afirmem que a Wicca é uma religião não hierárquica e não dogmática, na Tradição Gardneriana existe uma hierarquia própria dentro dos covens e dogmas (matérias de fé) inquestionáveis a serem aceitos por seus membros. A Wicca possui uma estrutura, princípios e fundamentos que não podem ser negligenciados. A Wicca é uma Arte viva tanto na Europa quanto nas Américas. Ela não é mais uma sombra do mundo antigo, embora tenha suas raízes lá, e é fervorosamente discutida entre alguns antropólogos. Também não é um passatempo bizarro de alguns visionários. Trata-se muito mais de uma religião ativa que ganha diariamente um número crescente de adeptos. O mais importante, dentro dos fundamentos e mistérios wiccanianos, é a possibilidade de transformação pessoal que realmente ocorre quando a pessoa passa por um processo iniciático num coven. Na Wicca aprende a libertar-se de conceitos arraigados na mente por todo tipo de educação e condicionamento. Na Wicca inexistem conceitos maniqueístas e os sacerdotes desenvolvem a capacidade de expandir sua consciência interagindo com a Natureza por meio da própria natureza interior. É através da experiência sagrada com a Deusa e o Deus, e da sagrada união dos opostos, que honra a existência e compreende que Vida e Morte fazem parte do eterno espírito, presente em todos. É nesse sentido que a Wicca se revela uma religião libertária, onde não existe nenhum poder centralizado e dominante, sem julgamentos e punições.
A Tradição Gardneriana não concorda com todos aqueles que insistem que a Wicca é uma religião da Deusa onde não existem regras ou dogmas. O aspirante a sacerdote tem que passar por um período de estudo e aprendizagem que é definido por graus, cada grau no total de 3 vai qualificando o aprendiz à condição de sacerdote. Para os Gardnerianos, não há a autoiniciação e sim a autodedicação, que faz da pessoa um pagão e não um sacerdote ou sacerdotiza da Deusa.

Os três graus

Iniciação do Primeiro Grau
Formalmente a iniciação de primeiro grau torna-a uma bruxa(o) comum. Mas é claro que é um pouco mais complicado que isso.Como todos os bruxos experientes, existem algumas pessoas que são bruxas (ou bruxos) de nascimento muitas vezes podem tê-lo sido desde uma encarnação passada. Uma boa Sumo-Sacerdotisa ou Sumo-Sacerdote costuma detectá-las. Iniciar um destes bruxos não é "fazer uma bruxa"; é muito mais um gesto bidirecional de identificação e reconhecimento e claro, um Ritual de boas-vindas de uma mais-valia de peso ao Coven. No outro extremo, existem os que são mais lentos ou menos aptos muitas vezes boas pessoas, sinceras e trabalhadoras que o iniciador sabe que têm um longo caminho a percorrer, e provavelmente muitos obstáculos e condições adversas a ultrapassar, antes de se poderem chamar verdadeiros bruxos. Mas mesmo para estes, a Iniciação não é um mero formalismo, se o iniciador conhecer a sua Arte. Pode dar-lhes uma sensação de integração, um sentimento que um importante marco foi ultrapassado; e apenas por lhes atribuir a qualidade de candidato, (apesar de não parecer terem qualquer dom), o direito de se auto-denominarem bruxos, encoraja-os a trabalhar arduamente para merecerem esta qualidade. E alguns menos aptos podem tomá-lo de surpresa com uma aceleração súbita no seu desenvolvimento após a iniciação; então saberão que a iniciação resultou. No meio, encontra-se a maioria; os candidatos de potencial médio e forte capacidade de evolução que, se apercebem de uma forma mais ou menos clara que a Wicca é o caminho que têm procurado e porquê, mas que ainda estão no início da exploração das suas capacidades. Para estes, uma Iniciação bem conduzida pode ser uma experiência poderosa e incentivante, um genuíno salto dialéctico no seu desenvolvimento psíquico e emocional. Um bom iniciador tudo fará para que isso aconteça. Na verdade, o iniciador não está sozinho na sua tarefa (e não nos estamos apenas a referir ao apoio de algum companheiro ou dos outros membros do Coven). Uma Iniciação é um Ritual Mágico, que evoca poderes e deve ser conduzido com a confiança plena que esses poderes invocados se irão manifestar. Toda a iniciação, em qualquer religião genuína, é uma morte e renascimento simbólicos, suportados de forma consciente. No Ritual Wicca este processo é simbolizado pela venda e amarração, o desafio, a provação aceite, a remoção final da venda e das amarras é a consagração de uma nova vida.

Iniciação do Segundo Grau
A Iniciação de 2.º Grau promove um bruxo(a) de 1.º Grau a Sumo-Sacerdote ou Sumo-Sacerdotisa; não necessariamente a líder do seu Coven, claro. Um bruxo(a) de Segundo Grau pode iniciar outros apenas, claro, do sexo oposto, e para o 1.º ou 2.º Graus. A Iniciação pode ter repercussões psíquicas e kármicas muito fortes, e se for dada de uma forma irresponsável, os resultados podem tornar-se parte do karma do próprio Iniciador. Os líderes dos Covens devem lembrar-se disto quando decidem se alguém está pronto para o segundo grau, e perguntar-se a si próprios em particular se o candidato é maduro o suficiente para lhe ser confiado o direito de iniciar outros; se não, os seus erros podem muito bem recair no seu karma! Se um bruxo(a) de segundo grau acabado de iniciar tiver sido bem escolhido e devidamente ensinado, é óbvio que não estará ansioso de apressadamente iniciar pessoas só porque as regras o permitem. Existem três elementos que pertencem ao ritual de Segundo Grau que não são parte do ritual de Primeiro Grau. Primeiro, é atribuído ao Iniciado um nome de Bruxo (nome mágico), que ela ou ele escolheu previamente. A escolha é inteiramente pessoal. Pode ser um nome de um Deus ou de uma Deusa que expresse uma qualidade a que o Iniciado aspire, como Vulcano, Thétis, Thoth, Poséidon ou Ma'at. (Os nomes mais elevados de cada panteão particular, como Zeus ou Ísis, devem, sugere-se que sejam evitados; eles podem ser interpretados como arrogância implícita do Iniciado). Ou pode ser um nome de uma figura histórica ou lendária, de novo implicando um aspecto particular, como Amerfin o Bardo, Morgana, a Feiticeira, Orpheus, o Músico, ou Pythia, o Oráculo. Pode mesmo ser um nome sintético construído com as letras iniciais de aspectos que criem um equilíbrio desejável no Iniciado (um processo desenhado a partir de um certo tipo de magia ritual). Mas, qualquer que seja a escolha, não deve ser casual ou apressada; uma consideração e meditação aprofundadas antes da escolha é em si um ato mágico. Segundo, depois do Juramento o Iniciador ritualmente envia todo o seu poder para o Iniciado. Também isto não é uma cerimónia, mas um ato de concentração mágica deliberada, em que o Iniciador aposta tudo o possível em manter e lidar com a continuidade do poder psíquico na Arte. E em terceiro lugar, o uso ritual das cordas e do chicote é a ocasião para dramatizar uma lição acerca do que é muita vezes chamado de "efeito boomerang"; nomeadamente, que qualquer esforço mágico, quer para fazer o bem ou fazer o mal, retorna a triplicar para a pessoa que o faz.

Iniciação do Terceiro Grau
A Iniciação de Terceiro Grau eleva um bruxo ao mais alto dos três níveis da Arte. Resumindo, um bruxo de Terceiro Grau é totalmente independente, respondendo apenas aos Deuses e à sua própria consciência. Pode Iniciar outros no Primeiro, Segundo ou Terceiro Graus e pode fundar um Coven completamente autónomo que (ao contrário daqueles com líderes de Segundo Grau) já não está sujeito à orientação do Coven-Mãe. No entanto, é óbvio que enquanto permanecer membro do Coven-Mãe esta independência está suspensa; cada membro do Coven, qualquer seja o seu Grau, deve aceitar a autoridade da Sumo-Sacerdotisa e do Sumo Sacerdote; se um membro do Terceiro Grau já não o conseguir fazer, é altura de abandonar este Coven e fundar o seu próprio. É como diz na Lei: "Se eles não concordarem com os seus Irmãos, ou se disserem "não trabalharei sob esta Sumo-Sacerdotisa", a Antiga Lei tem sido sempre favorável ao Irmão e com o objetivo de evitar confrontos. Qualquer um do Terceiro pode reclamar o direito de fundar um novo Coven..."O Ritual de Iniciação do Terceiro Grau é o Grande Rito.



Bom meus queridos, como já tinha dito antes, eu não estou aqui para dizer se os Gardnerianos estão certos ou errados, cada um de nós tem que se sentir bem no local que escolheu para seguir os caminhos da Deusa e do Deus. Claro, se optarem por Gardner, terão mesmo que seguir os conceitos que ele afirmou. Bem tenho certeza que os conceitos básicos ele não tirou de sua mente, como disse no texto acima, ele realmente fazia parte de uma "sociedade" ou melhor dizendo "irmandade" que inclusive demonstrou muita irritação quando Gardner decidiu expor para todos os seus conhecimentos. Um livro que eu indicaria para quem quiser saber mais sobre estes Wiccanianos é Wicca Gardneriana de Mario Martinez.

Respondendo a uma pergunta que me fizeram, qual o termo certo: wiccanos ou wiccanianos? Bem, pelo português wiccanianos seria a grafia mais indicada, pois final "ano" se aplica somente a tradução de nacionalidade como indiANO, peruANO, americANO. Na verdade, wicca não é uma palavra traduzida, portanto, wiccano ou wiccaniano ou wiccan ou até mesmo wiccão, estão valendo. O mais importante é que continuemos a seguir a lei tríplice, celebrar e viver com a Deusa e o Deus em nossos corações.



Uma ótima semana a todos, que os Deuses os abençoem e até a próxima.

Angus Mac On

2 comentários:

Diana disse...

É engraçado lembrar hoje em dia -- acho que nunca te falei -- que meu dom que eu tinha conscientemente dominado e calado foi cruelmente liberado por uma necessidade maior do que a minha Vontade (Pois afinal de contas, existem ligações mais fortes do que o que a nossa Vontade pode controlar). Não se passaram três dias e eu, que nada sabia da Arte, que nunca tinha lido nada sério a respeito, estava distraida no computador quando subitamente me deu um sono que eu não conseguia controlar e fui dormir. Eu sonhei exatamente com o ritual Garderiano da Iniciação de Segundo Grau. Foi muito estranho a primeira vista, mas então eu procurei uma das meninas para conversar e o resto, é história. xD

Luz, meu irmão.

Varinhas Perdidas Pelo Mundo disse...

Curiosamente, lendo a esta matéria, eu dei graças aos Deuses não ter iniciado ninguém em segundo grau! *rs* Já adquiri karma suficiente com algumas iniciações em primeiro grau... enough!
Mas, confesso, tive gratas surpresas com algumas "filhas". A evolução foi tão intensa que me deixou com a sensação de dever cumprido. Espero que jamais abandonem a Arte e que a sigam com responsabilidade e respeito, como deve ser.
Por meu lado, me pergunto se eu teria disciplina ou capacidade de me iniciar em todos os graus por uma tradição Gardneriana... tenho dúvidas. Não sou tão disciplinada e nem creio que tenha dom para isso. Prefiro ser apenas uma bruxa que trabalha com fé e amor, do que ser uma Suma Sacerdotisa incapaz.
;-)
Bênçãos Daquela que traz esperança ao frio do inverno